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Colher uma amora
o lume atear
Abrir um vinho pisado
fazer um barco navegar
Possuir um astro
e de espanto soltar
Um corpo ruivo ao redor
antes de poder gritar
Regina Cantante
Poesia Contemporânea
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Colher uma amora
o lume atear
Abrir um vinho pisado
fazer um barco navegar
Possuir um astro
e de espanto soltar
Um corpo ruivo ao redor
antes de poder gritar
Regina Cantante
Poesia Contemporânea
Seus olhos - se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou
Não tinham luz de brilhar.
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! - e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, num só momento que a vi,
Queimar toda alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.
Almeida Garrett
A mão se fecha
você se crispa
em dor.
Você se crispa
a dor se abre
em flor:
e você não sabe
na terceira pessoa do singular
porque realmente sofrer
essa dor plural.
Alvaro Pacheco
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doidesembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.Manuel Alegre
O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...
Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...
(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol ...
Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)
Fernando Pessoa
O vento sopra lá fora.
Faz-me mais sòzinho, e agora
Porque não choro, ele chora.
É um som abstracto e fundo.
Vem do fim vago do mundo.
Seu sentido é ser profundo.
Diz-me que nada há em tudo.
Que a virtude não é escudo
E que o melhor é ser mudo.
Fernando Pessoa
É um pássaro,é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rora ou mar,
tudo é ardor,tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave,água no mar
Eugénio de Andrade
Com todas as rimas eu canto,
Oh homem do meu encanto
Tua boca que ri do meu pranto.
Dispo os véus de muitas cores,
Digo palavras de pecadores
Dou-te meu corpo sem pudores.
Sorvo teu hálito benfazejo
Num quente longo beijo
E tua mão aguça o desejo
De me perder em louca orgia,
Pois morro de tanta agonia
Se não estás presente todo dia.
A fome de ti me governa,
Sua ânsia apaga a lanterna
Que tenho à porta da taverna
Da minh’alma sedenta de prazer
Que, sem saber o que fazer,
Vaga no deserto de te querer.
Maria Hilda de J. Alão.
Dos olhos me cais,
redonda formosura.
Quase fruto ou lua,
cais desamparada.
Regressas à água
mais pura do dia,
obscuro alimento
de altas açucenas.
Breve arquitectura
de melancolia.
Lágrima,apenas.
Eugenio de Andrade
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